Como Era No Princípio
T. Austin-Sparks
Temos dado grande ênfase sobre o fato de que, no
princípio, tudo estava debaixo do governo do
Espírito Santo, o qual tinha assumido a custódia
de todo o propósito de Deus, e era o Seu
curador. Como no caso do tabernáculo do Velho
Testamento, o modelo completo foi concebido no
céu até o último detalhe, e mostrado. Então,
Bezaleel e Aholiab foram cheios do Espírito de
Deus para toda arte de ofício. Absolutamente
nada foi deixado para a concepção do homem, e
porque as concepções eternas, espirituais e
divinas estavam por trás de cada fragmento, Deus
foi meticulosamente detalhista.
Assim foi na primeira fase de coisas no
princípio do novo Israel. O homem possui uma
grande propensão para colocar as suas mãos nas
coisas, e nada é tão sagrado para escapar disso.
A grande precaução tomada por Deus quando Adão
desencadeou este tipo de coisa foi: ‘Para que
ele não estenda as suas mãos... ’ Quando
isto foi feito, como nos exemplos de Nadab e
Abiú, Uzias, Ananias e Safira, etc., o Senhor
mostrou a Sua desaprovação por meio
de um
julgamento rápido. A mão do homem é sempre
possessiva, controladora e organizadora. Seu
método é trazer as coisas dentro dos limites de
sua própria mente e juízo. Não há acordo entre
as mãos do Espírito Santo e as mãos do homem, e
qualquer tentativa da parte do homem de
conciliar irão resultar em conseqüências
desastrosas mais cedo ou mais tarde.
Há uma necessidade clamorosa por uma renovação
de nossa mentalidade em relação aquilo que
chamamos procedimento neotestamentário. O ponto
inicial terá que ser na encruzilhada entre
causas e efeitos, isto é, como e por que as
coisas começaram, e as coisas em si. Nós
começamos do lado errado, no lugar onde as
coisas estão em existência, e tomamos as coisas
como um modelo, um projeto, um livro texto, e
passamos a imitar, a copiar, a reproduzir.
Assim, reduzimos o Novo Testamento em um manual
de organização. Fazendo assim, desprezamos o
fato fundamental, elementar, e vital que aquilo
que temos no Novo Testamento nunca foi desta
maneira. Seja lá o que exista no Novo Testamento
que é chamado de uma ‘ordem’ era um
assunto normal, natural, espontâneo, de um tipo
de vida que tinha sido miraculosamente concedida
pela ação direta do mesmo Espírito quando tornou
possível a concepção de Jesus no ventre de
Maria: ‘Gerado, não criado’. Foi o
crescimento e a formação de um organismo: ‘Não
do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus’. (Jo. 1.13).
Isto foi tão verdadeiro da parte inteira quanto
o foi das partes individuais.
Vamos tomar:
O Caso das Igrejas
A idéia mais genérica é que os apóstolos, Paulo
em particular, criam que eles foram chamados
para ir e formar igrejas por todo o mundo, que
quando eles entravam numa província, ou numa
cidade, o pensamento deles era o de formar lá
uma igreja local. Iremos procurar em vão por
alguma ordem do Senhor, ou intimação vinda dos
apóstolos de que este era o objetivo deles. O
que eles sabiam ser seu negócio era trazer
Cristo por onde quer que eles fossem. Se Cristo
fosse rejeitado, não havia igreja. Se Cristo
fosse aceito, aquelas pessoas que O aceitaram se
tornavam um instrumento de Cristo naquele lugar.
A única concepção de igreja em todo lugar não é
uma representação da religião cristã, mas uma
corporificação de Cristo. Onde quer que isso
ocorra, mesmo que sejam duas ou três pessoas
reunidas em Seu nome, lá Jesus está. É a
presença de Cristo que constitui uma igreja, e é
o aumento e a conformidade a Cristo que é o
crescimento de uma igreja. No livro de
Apocalipse, o Senhor não hesita em falar da
remoção de um castiçal, caso cesse a sua função
essencial, embora muita da forma e da atividade
cristã ainda possa estar presente. A função
essencial e o critério final é a presença de
Cristo. A presença do Senhor sempre foi o fator
determinante nos valores eternos. É a função
suprema de o Espírito Santo trazer Cristo para
dentro de todas as coisas, e todas as coisas
para dentro de Cristo.
Igrejas, como tais, são apenas meios, e, como
coisas terrenas, elas passarão com o tempo. O
que é de Cristo dentro e através dos meios será
reunido numa forma especial dentro da grande
igreja universal que Cristo irá apresentar a Si
mesmo _ ‘uma igreja gloriosa’. Nós não
estamos aqui tratando com o organismo pleno que
sai da semente da vida _ a lavoura de Cristo _
mas apenas com ‘como era no princípio’.
Naturalmente, um desafio está envolvido: Como
isto e aquilo vêm à existência?
O princípio que era pra ser estendido para o
mundo inteiro estava inerente na escolha e no
envio por Cristo dos ‘setenta’. Eles
foram enviados a todo lugar ‘aonde Ele próprio
viria’. Uma igreja local, então, não é em
primeiro lugar algo constituído ou formado
conforme um modelo ou procedimento, mas pela
presença de Cristo em duas ou mais pessoas
naquele lugar. Essas pessoas ‘batizadas em um só
Espírito em um só corpo’ são, em efeito, Cristo
naquela localidade, tomando posse da terra como
um testemunho de Seus direitos, e espalhando ‘o
bom perfume de Cristo em todos os lugares’.
Falhar nisto, com relação à sua verdadeira
função, o organismo está morto.
Continue com a forma se você quiser, porém a
‘igreja’, como tal, não é mais sagrada aos olhos
do Senhor do que o tabernáculo em Siló, ou o
templo em Jerusalém, uma vez que a glória tinha
desaparecido, isto é, a presença do Senhor.
Os Obreiros
O princípio ao qual temos nos referido acima é
o mesmo em relação a toda pessoa que tem
qualquer posição de responsabilidade na obra do
Senhor. É um grito distante dos métodos modernos
em comparação aos do princípio. A escolha
através de voto popular, a escolha de pessoas
‘habilitadas’ para o serviço, a influência de
títulos, de diplomas, de homens com visão de
negócio, de sucesso no mundo, de dinheiro,
‘interesse na obra de Cristo’, a escolha de
‘neófitos’, e dar ou permitir reconhecimento
público a tais coisas é um sistema que não tinha
nenhum lugar no princípio. Isto está repleto de
problemas que aparecerão mais cedo ou mais
tarde, e é algo perigoso para as pessoas
envolvidas.
Uma questão simples e prática surgiu bem no
princípio. Foi apenas uma questão de ver que
certas viúvas estavam sendo desprezadas quanto
às suas necessidades básicas diárias, e a
ministração justa do dinheiro disponível.
Poderia ser pensado que qualquer bom homem, ou
homens, com um pouco de habilidade para negócio,
poderia resolver aquela situação, mas não foi
assim no princípio. A prescrição era: ‘...homens
de boa reputação, cheios do Espírito e de
sabedoria’. ‘E eles escolheram Estevão,
um homem cheio de fé e do Espírito Santo, e
Filipe, e Prochorus, e Nicanor, e Timon, e
Parmenas, e Nicolas, um prosélito de Antioquia:
a quem eles colocaram diante dos apóstolos, e
eles oraram e lhes impuseram as mãos’. (At.
6).
O assunto foi conduzido por meio de cuidado
escrupuloso, e o requisito essencial era ser ‘cheio
do Espírito Santo’, para que todos pudessem
ver. Nesta fase mais elementar de procedimento o
imperativo era homens espirituais,
reconhecidos por todos como tais. O ‘ritual’ não
os tornava espirituais. Eles já eram espirituais
antes que as coisas mais elementares lhes fossem
confiadas. Evidentemente eles tinham sido
provados na igreja e foram aprovados antes que
fossem ‘ungidos’. Se isto era assim no caso das
responsabilidades elementares, quanto mais seria
isto aplicado à grande responsabilidade dos
anciãos e dos que presidiam.
Antes dos apóstolos terem terminado os seus
ministérios, as coisas começavam a mudar na
ordem da igreja. Sinais de um eclisiasticismo
insipiente, como conhecemos hoje, estavam
aparecendo. É desprezado que quando Paulo
escreveu suas cartas _ a Timóteo _ e disse que
ele escreveu para que os ‘homens pudessem
saber como deveriam se comportar na casa de Deus’,
que Paulo estava escrevendo a fim de corrigir o
comportamento errado. Aquela má conduta estava
associada principalmente aos que estavam em
posição de responsabilidade, os anciãos. O
corretivo de Paulo era o reconhecimento de que
anciãos não são apenas cargos eclesiáticos, mas
são essencialmente homens espirituais;
homens de medidas espirituais, e não
neófitos. Eles são anciãos em caráter, em
qualificações e dons espirituais antes de terem
o título de ancião. O título jamais transforma
um homem num ancião. Se ele já não for um
ancião, nenhum título jamais o irá transformar
em um! Tanto na igreja, como em homens
responsáveis, é a presença e a medida de Cristo
que determina tudo.
Nós não fizemos mais do que apontar um princípio
vital. Vital no sentido de que ele irá
determinar a vida, o curso e o destino de tudo
que levar o nome do Senhor.
Em
consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo
que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos
não possuem copirraite. Portanto, você está livre para
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Fonte: http://www.vida.emcristo.nom.br/estudos_sparks.htm
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