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Deixe Meu Povo Ir (Cap. 5 - Liderança na Igreja)


CAPÍTULO 5: 

LIDERANÇA NA IGREJA



        
          Agora chegamos a um dos mais importantes aspectos de nossa discussão. É talvez a parte mais mal compreendida da construção eterna de Deus. A menos que tenhamos uma clara compreensão de como o corpo de Cristo é governado, grande parte do nosso trabalho será em vão.
Sem tal clareza de visão, somos levados a usar métodos humanos. Quando há falta de uma revelação celestial, temos apenas métodos seculares dos quais depender. Esses materiais naturais não podem ser usados para edificar a Noiva real. Sem os materiais divinos, não podemos construir algo onde Ele se agrade em morar, nem edificar a Noiva com quem Ele deseja casar.
Esse é um assunto muito difícil, primeiramente porque quase todos chegam a tal discussão com muitas idéias pré concebidas. Aquilo que é comumente aceito e pregado hoje nas igre­jas é considerado como padrão. Até mesmo os não crentes têm noções fortemente firmadas sobre como deve ser a liderança na Igreja. Por exemplo, se você menciona a palavra "pastor", quase todos, até não crentes, pensam em alguém que dirige uma igreja e prega lá todo domingo. O exemplo do mundo ao redor deles os ensina. Conseqüentemente, é muito difícil falar sobre algo novo ou diferente.
Nos tempos do Novo Testamento, não havia tais padrões estabelecidos. Nunca antes houvera algo parecido com uma igreja. Eles não tinham milhares de exemplos para copiar e, assim, suas mentes estavam em um tipo de estado original. O que quero pedir a todos os leitores é que tentem chegar a esse mesmo tipo de inocência, no que se refere ao assunto de lide­rança na igreja.
Vamos imaginar que nós também vivemos nos tempos do livro de Atos e que todas as coisas que o Espírito Santo estava fazendo eram muito novas e frescas. Talvez desse modo pos­samos deixar de lado, por um momento, toda a bagagem que adquirimos e nos voltar para Deus. Pela Sua misericórdia, pode ser que uma visão mais clara do governo de Deus em Sua casa nos seja mostrada.
Se você se abrir por um momento, não há grande risco. Você sempre poderá voltar para o que pensava antes e continuar a praticá-lo. Se o que ler aqui não lhe tocar, se o Espírito Santo não revelar nada novo ou diferente, você não perdeu coisa alguma. Ninguém mais precisa saber que você secretamente tirou um pouco de tempo para rever o seu trabalho para Deus, a fim de verificar se perdeu alguma coisa ou se existe a possibilidade de melhorá-lo.


O PRINCÍPIO DO GOVERNO
No início de nossa discussão, o primeiro e principal funda­mento que precisamos entender é que Jesus Cristo é O Cabeça de Seu corpo. Isso significa que Ele é o único governo. Isaías 9:6 diz: "...e o governo está sobre os Seus ombros" (NVI). Ele é alguém que dirige todas as coisas. Ele é quem toma todas as decisões. Ele é o líder. Ele é a Cabeça. Lemos: "Porque Ele é a Cabeça do corpo que é a igreja" (Cl 1:18 - NVI). Além disso, somos ensinados que Ele é "...cabeça de todas as coisas para a Igreja" (Ef 1:22 - NVI). Também vemos que Ele deve ter primazia sobre "todas as coisas" (Co 1:18).
Vamos parar aqui um momento e meditar na analogia refe­rente ao corpo. Deus usa essa figura para nos revelar Sua von­tade e autoridade. Em um corpo humano, a cabeça dirige tudo. Nenhum outro membro pode tomar decisões. Nenhuma outra parte está qualificada para guiar as outras.
Embora o corpo seja extremamente complexo e tenha dife­rentes tipos de membros e órgãos, a cabeça dirige as funções de todos eles. Os olhos podem ser muito aguçados, mas nunca con­seguem dirigir o corpo. O coração pode ser muito saudável, mas ele nunca pode tomar decisões. As pernas podem ser fortes, mas elas não dão direção aos outros membros. Embora haja um sis­tema de nervos que transmitem a vontade da cabeça a todas as outras partes, estes nervos nunca se tornam capazes de pensar, raciocinar e então tomar decisões por conta própria.
Assim também é no corpo de Cristo. Jesus foi colocado pelo Pai como a Cabeça de tudo. Até hoje, Ele ainda mantém esta posição. É intenção de Deus que Jesus governe cada movimento de Seu corpo. Cada obra, cada palavra, cada aspecto do corpo deve ser governado pela Cabeça. Nenhum outro membro pode substituí-La. Ninguém mais pode tentar usurpar ou comparti­lhar dessa autoridade. Jesus Cristo é perfeitamente capaz de sus­tentar cada molécula do Universo. Então, Ele também é capaz de funcionar como a Cabeça de todas as coisas para a Igreja.
Contudo, a Igreja hoje parece ser um tipo de monstro mitológico, como Hidra, uma criatura com muitas cabeças. Para onde se olha, há sempre muitos homens e mulheres afirmando ter autoridade. Eles estão governando, dirigindo e direcionando um ou outro tipo de igreja, a todo vapor. Talvez sem imaginar, muitos crentes estejam competindo com Jesus para ser a Cabeça de pelo menos uma parte de Sua Igreja.
A cada dia, outra "cabeça" começa a brotar, reivindi­cando ter um mandado do Senhor para dirigir uma parte de Sua obra. Muitos deles estão insistindo em que os crentes se sub­metam à sua autoridade, já que ela foi "recebida de Deus". Mas, a qual deles devemos nos submeter? Qual dos milhares ou mesmo dos dez milhares de figuras de autoridade, que vemos na igreja hoje, é realmente a verdadeira?


            O PROBLEMA DA INVISIBILIDADE
Talvez uma grande parte do problema que temos em com­preender e tentar seguir o governo da verdadeira Cabeça é que Jesus é invisível. Não podemos vê-Lo com nossos olhos físicos. Porém, o homem natural acredita em coisas visíveis. Ele gosta de coisas que são tangíveis, de algo que possa ver, saborear, sen­tir e ouvir. Para ele, isso é real. O mundo espiritual, por outro lado, é um pouco místico demais e, portanto, não confiável.
Entretanto, de acordo com a Bíblia, as coisas espirituais são, de fato, as mais reais. Elas são mais "reais" do que o mundo físi­co, no qual tanto acreditamos. 2 Coríntios 4:18 diz "...porque as [coisas] que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas."
Aqui precisamos ajustar nosso pensamento. Nossa confiança no físico e no tangível deve ser substituída por uma completa dependência de nosso invisível Senhor. Por meio de nossa fé, precisamos desenvolver um relacionamento íntimo com Jesus. Precisamos aprender a conhecê-Lo, a ouvi-Lo e a segui-Lo.
Isso é absolutamente essencial para cada crente. Ninguém mais pode fazer isso por você. Cada cristão, sem exceção, neces­sita se tornar um seguidor de Cristo. E isso exige que mante­nhamos uma intimidade com Ele, pela fé.
Não é suficiente que alguém simplesmente se conforme a alguns padrões bíblicos. Não é o bastante se ajustar a algum tipo de grupo, aceitando seus costumes e suas metas. Não é intenção de Deus apenas darmos nossa aceitação mental a um conjunto de doutrinas ou práticas. Seu pensamento é que venhamos a conhecê-Lo pessoal e intimamente. Além disso, Seu desejo é que, por meio desse relacionamento íntimo e real, Ele seja capaz de nos guiar em todos os aspectos de nossa vida.
Deste modo, Ele pode ser nossa Cabeça. À medida que O co­nhecemos e O seguimos, Seu governo sobre nossas vidas se torna mais real. Ele pode dirigir nossas atividades diárias e nos mostrar Suas vontades e Seus métodos. Até mais do que isso, Ele pode começar a guiar nossos pensamentos e nossas emoções. Sua soberania pode começar a afetar nossas atitudes e nossas opiniões. Nossos desejos, expectativas e mesmo os nossos medos podem se sujeitar à Sua autoridade.
Assim como nossa cabeça humana guia não apenas o nosso corpo, mas cada aspecto de nossa vida psicológica, assim tam­bém Jesus pode reinar sobre toda a nossa vida. Desta forma, a Vida e a natureza de Deus podem ser manifestas em nós e por meio de nós. Esta é a verdadeira Cristandade. Esta é a ver­dadeira casa de Deus.
Todavia, é dolorosamente óbvio que nem todos os crentes estejam conseguindo, até nem procurando viver nessa intimi­dade e obediência. É triste, mas é verdade que muitos que se chamam de cristãos têm muito pouca intimidade com o Senhor e não têm idéia de como escutá-Lo e de como segui-Lo. É aqui então que se levanta uma grande tentação que se manifesta em dois aspectos que procuraremos detalhar.
Primeiramente, há aqueles que têm algum relacionamento com Jesus. Eles têm uma medida de consagração e fé, e ouvem a Deus num grau maior ou menor. Então, quando vêem que ou­tras pessoas estão andando por aí sem qualquer direção da Cabeça, eles querem ajudá-las.
Mas, se não forem cuidadosos enquanto estiverem tentando ajudar outros, eles próprios se tornarão uma cabeça. Pouco a pouco, eles começarão a ser um senhor nas vidas desses indiví­duos. Eles começarão a dar conselhos e direção. Orientarão ou­tros a buscar as metas que Deus mostrou a eles. Eles irão ensi­nar, pregar, "discipular" e liderar. Logo, terão um grupo comple­to de seguidores.
O problema é que, freqüentemente esses seguidores não foram levados a uma intimidade com Jesus. Eles não con­seguiram estabelecer um relacionamento com Ele, para que Ele dirija suas vidas. Em vez disso, começaram a confiar e a seguir uma liderança humana. Como resultado, não estão sendo trans­formados à imagem de Cristo, mas estão simplesmente confor­mados à imagem de um líder ou do grupo a que se uniram.
É bem possível que o conselho e a direção que receberam possam ser "verdadeiros". Podemos imaginar que o ensino que ouviram se fundamente na Bíblia. Contudo, tudo isso pode ser feito sem aproximar ninguém de Deus. É bem possível que eles simplesmente se tornem dependentes de um outro homem.
Pode ser que esses indivíduos possam aparentar uma peque­na mudança. Talvez alguns de seus pecados mais graves tenham desaparecido ou se ocultado. Pode ser que os seus hábitos e esti­lo de roupas, corte de cabelos etc., tenham se modificado. Aos olhos do grupo, eles agora são considerados "bons cristãos".
Mas, se eles não desenvolveram o tipo de comunhão com o Deus invisível que se tornou a fonte de sua vida e direção, todas essas mudanças foram em vão. Se eles não chegaram a uma total submissão de todo o seu ser à autoridade da Cabeça, perderam a verdadeira meta. Se não desenvolveram uma íntima caminha­da diária com o Salvador invisível, eles realmente não foram aju­dados. Essas pessoas foram conformadas a algum padrão, mas não transformadas à imagem de Jesus.
Acredito que a grande maioria de tais líderes comece com as melhores intenções. Querem ajudar o povo de Deus. Sentem compaixão por aqueles que não aproveitam o relacionamento com Jesus da mesma maneira que eles.
Então, trabalham para ajudá-los. Mas, se não forem cuida­dosos, é extremamente fácil, querendo ou não, induzir outros a serem dependentes deles. É muito simples começar a se colocar no lugar de Jesus na vida dos outros.
Embora acreditemos ver algumas mudanças em suas vidas, se eles não se tornaram íntimos de Jesus e não aprenderam a realmente segui-Lo, tudo isso é inútil. A menos que tenhamos recebido uma visão celestial, é muito fácil construir algo que não irá suportar qualquer teste. É possível também gastar muito tempo e esforço construindo uma casa na qual Deus não irá morar.


O PROBLEMA DO ORGULHO
Algumas vezes, as coisas que foram feitas com as melhores intenções não acabam bem. Podemos querer fazer a coisa certa, mas acabamos errando. Se começamos a construir sem a reve­lação celestial, isso pode facilmente ocorrer.
Dentro do coração de cada homem ou mulher, se esconde um pecado grave - o orgulho. Pode ser algo do qual não temos conhecimento, mas ele está lá. Então, quando outros começam a olhar para nós, quando nos honram com títulos e posições, quando o prestígio e o respeito começam a aparecer em nosso caminho, ficamos em uma posição muito perigosa.
Se aceitarmos tais coisas, quando o fazemos, caímos na "mesma condenação do diabo". Outra tradução desse texto diz que caímos na "mesma armadilha em que o diabo caiu" (1 Tm 3:6). Jesus não aceitou honra de homens (Jo 5:41). Ele nunca tomou posição de autoridade terrena. Recusou-se a ser coroado rei (Jo 6:15). Ele evitou a fama, dizendo àqueles que curava, que ficassem quietos sobre o fato (Mt 8:4, Mt 9:30, Mc 7:36, Mc 8:26). Devemos seguir Seu exemplo.
Se também não recusarmos todas as atenções dos homens, iremos desviar do caminho de Deus. Se não aprendemos a evi­tar determinadas posições onde os homens olhem para nós e não para Jesus, cairemos num erro muito grave.
Ao começarmos a entender a importância da soberania de Cristo sobre o Seu corpo, essa verdade se tornará cada vez mais evidente para nós. Se nos exaltamos ou permitimos que os demais nos exaltem, isto demonstra que ainda não compreen­demos a maneira certa de construir a casa de Deus.
No Novo Testamento, encontramos um conceito interes­sante. É a idéia de um "anticristo". Na língua grega, esse radical "anti" tem dois significados. O primeiro, que nos parece fami­liar hoje, é o significado de "contra". Hoje, pensamos que um anticristo é alguém contra Cristo.
Mas, nos dias da Igreja primitiva, essa palavra tinha um sig­nificado ainda mais notável. Esse significado é "em vez de" ou "no lugar de". Portanto, um anticristo seria alguém que estaria ocupando o lugar de Cristo. Em vez de Jesus Cristo ser a Cabeça e a fonte de nossas vidas, um anticristo seria alguém que O estaria substituindo neste relacionamento. Um anticristo moder­no seria alguém para quem as pessoas estariam olhando em busca de direção, ao invés de olhar para Cristo.
No futuro, alguém chamado "anticristo" vai "...assentar-se no santuário de Deus ostentando-se como se fosse o próprio Deus" (2 Ts 2:4). Em outras palavras, tirando o lugar que, por direito, pertence a Deus. Mas, hoje, muitos estão, intencional­mente ou não, tomando o lugar de Jesus em Sua Igreja. Em vez de Jesus ser a Cabeça sobre tudo e sobre todos, eles é que se tornaram os líderes.


          O HOMEM TENDE À DEPENDÊNCIA HUMANA
Um outro aspecto da tentação de que estamos tratando é que, muitos crentes gostam de ter um líder. Jeremias 5:31 diz: "...os sacerdotes dominam pelas mãos deles [pelas próprias forças], e o Meu Povo assim o deseja..." (VRC). Conforme vimos anteriormente, as pessoas confiam em seus sentidos físicos. Portanto, uma cabeça humana, ou um líder, é uma coisa maravi­lhosa para elas. Podem vê-lo, ouvi-lo e obedecê-lo. Esta é uma tendência natural da humanidade. Desde a queda de Adão e Eva, tem sido sempre assim. Seguir alguém invisível é um pouco difícil. Seguir um líder humano é muito mais fácil.
Então, é muito comum tais pessoas procurarem e olharem para aqueles que têm um relacionamento com Jesus. Elas estabelecem um tipo de intermediário, que recebe de Deus e lhes passa as instruções. O "intermediário" procura por Deus, em vez de elas fazerem isso, e lhes dá conselhos, cuida de seus pro­blemas e até mesmo faz os seus casamentos e funerais.
Assim, em vez de aprender a conhecer e a seguir a Jesus, esses homens e mulheres se ligam a outra cabeça. Sua dependência se fixa em uma outra pessoa. Seu foco está em algum tipo de líder para o qual eles olham, buscando alimento espiritual e direção. Esse não é o plano de Deus. Essa não é a Sua Noiva. Essa não é a Sua casa. Esse não é o Seu corpo. É um subs­tituto humano para todas as maravilhosas coisas espirituais que Jesus tem em Seu coração.
Estas duas tendências trabalham juntas para criar uma situ­ação espiritual doentia: alguém com alguma vida espiritual querendo ajudar aos outros porém faltando revelação; e o fato de que o ser humano prefere depender de algo tangível.
Em vez de realmente ajudar os outros, podemos estar impedindo o seu crescimento. Sem uma profunda compreensão de como construir, é possível construir algo que bloqueie o tra­balho de Deus em vez de adiantá-lo. Pode até ser que o que pen­samos ser um grande trabalho para o Senhor seja realmente um substituto para aquilo que Ele gostaria de fazer. Vamos exami­nar mais adiante esta possibilidade.
O pensamento de Deus é estabelecer um relacionamento íntimo com cada crente, a fim de que cada um possa sentir Sua liderança e segui-la em cada aspecto de sua vida. Portanto, quando queremos ministrar a outros, esta também deve ser a nossa meta. Nosso objetivo deve ser expor e eliminar da vida de cada crente tudo o que está impedindo o seu relacionamento com Jesus.
Além disso, precisamos encorajá-los, de todos os modos, a obedecer-Lhe, a conhecê-Lo e a amá-Lo. Precisamos lhes incen­tivar a buscar uma total e inteira consagração à Sua vontade e à Sua obra. Precisamos constantemente orar e considerar como lhes encorajar a buscar Sua face mais e mais. É nosso privilégio exibir, por meio de nossas vidas, palavras e obras, a natureza de Jesus, de tal maneira que isso levará outros também a uma intimidade com o Senhor. Esse é o verdadeiro ministério.




UM OUTRO OBJETIVO
Mas é possível termos um outro objetivo. Pode ser que nossa visão seja imperfeita e que estejamos tentando juntar algumas pessoas num tipo de grupo, que seja dependente de nossos dons e ministérios. Pode ser que o diabo tenha se saído bem em, sutilmente, nos desviar do caminho de Deus, e que tenhamos começado a construir uma organização terrena em vez da casa de Deus.
Quando isso ocorre, nossa motivação é desviada. Desejando atrair membros, nossa mensagem se transforma. Em vez de procurar a profunda (e provavelmente desconfortável) con­vicção de que são pecadoras, queremos que as pessoas se sintam bem-vindas. Em vez de expor os pontos em que os crentes não estão bem com Deus, queremos que eles voltem e se tornem membros regulares. Em vez de ministrar o Espírito Santo, cuja principal tarefa é convencer o mundo do pecado (Jo 16:8), apre­sentamos vários entretenimentos e oratória inofensiva. Quando nossa visão é deficiente, começamos a agir e a trabalhar de algu­mas maneiras que conflitam com os propósitos eternos de Deus.
Jesus nunca modificou Sua mensagem para fazer as pessoas se sentirem bem-vindas e confortáveis. Ele sempre falou a ver­dade, independente das reações e dos resultados. Quando nosso único objetivo é trazer as pessoas para um relacionamento com Ele, quando não temos nossos próprios projetos e planos pes­soais, então também somos livres para falar Sua palavra sem medo.
Se estamos apenas edificando pessoas, e não tentando juntar um grupo, então podemos ministrar Jesus com grande liber­dade. Quando temos em vista apenas a casa de Deus e não algum tipo de sucesso secular, podemos mais facilmente ser dirigidos pelo Espírito de Deus e podemos seguir a verdade em amor (Ef 4:15).


AS PALAVRAS DE JESUS
Enquanto tentamos compreender o governo de Deus sobre o Seu corpo, precisamos ter sempre em mente os ensinamentos de Jesus. Quando lemos o livro de Atos e as Epístolas e vemos o que era ensinado e feito naqueles dias, precisamos nos lembrar de filtrar tudo através das palavras de nosso Senhor gravadas nos Evangelhos. Sem esta reflexão é possível que acolhamos alguma prática ou ensino que esteja fora da linha que Jesus ensi­nava.
De fato, muito do que é ensinado e praticado nas igrejas hoje, vai diretamente contra as palavras de Cristo. Uma justifica­tiva para isto é que as pessoas recorrem às Escrituras já com um certo ponto de vista, um punhado de idéias preconcebidas, que adquiriram no moderno Cristianismo. Portanto, elas tomam cer­tas frases ou passagens das Epístolas e as distorcem, para amol­dá-las às suas noções já arraigadas.
Os apóstolos não tinham essa bagagem extra. Passaram anos caminhando com o Senhor e as instruções Dele guiavam tudo o que faziam e o que ensinavam. Esses irmãos não modificavam os ensinamentos Dele. Eles não procuravam melhorar os ensi­nos de Jesus à medida que prosseguiam. Não colocavam em prática coisas que violavam o que haviam aprendido com Ele.
Portanto, também precisamos analisar tudo o que eles diziam ou faziam sob essa ótica. É essencial alterarmos o nosso modo de compreender este assunto, para entrarmos em harmo­nia com o que está registrado nos Evangelhos. Isso é muito mais seguro do que tentar alterar a Palavra de Deus para ser conve­niente ou justificar nossas práticas.
Os ensinamentos de Jesus depositaram o fundamento para o exercício de toda autoridade em Sua Igreja. Tudo o que foi dito ou feito depois, que contrariava Suas instruções, foi um erro.
Além disso, qualquer coisa ensinada ou praticada hoje, que seja contrária aos Seus ensinamentos, é um sério engano. Isso deve estar muito claro para nós. O que nosso Senhor ensinou não era simplesmente um tipo de sugestão. Ninguém era ou é, hoje, livre para modificar as instruções Dele, de acordo com seus próprios caprichos.
O fundamento que Jesus claramente estabeleceu, referente ao exercício de autoridade, é absoluto! Precisamos trabalhar de acordo com Suas instruções ou estaremos agindo em desobe­diência.

OS PROBLEMAS DE TRADUÇÃO
É lamentável, mas uma verdade, que vários tradutores da Bíblia fizeram o seu trabalho com muitos preconceitos moder­nos. Eles compreenderam liderança e autoridade olhando ape­nas através das lentes das práticas populares de seus dias. De fato, muitos deles foram clérigos de várias denominações. Con­seqüentemente, em muitas versões da Bíblia, alguns versículos-chave sobre autoridade, nas Epístolas, tem um tipo de ênfase ou alusão que não se harmoniza com os ensinamentos de Jesus.
Como todo escritor sabe, a maneira como as palavras são usadas é muito importante. As mesmas palavras colocadas em ordem diferente ou usadas com ênfase diferente, podem con­duzir a idéias totalmente distorcidas. Portanto, durante a nossa investigação, examinaremos alguns desses vários versículos para ver se existem outras traduções que mostram uma compreensão mais coerente deste assunto tão importante.


          ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS
Quando Jesus ensinou os seus discípulos, declarou alguns princípios básicos referentes à autoridade em Seu reino. Vamos tomar cada um destes itens individualmente e ver como eles se aplicam à nossa situação, hoje. Novamente, precisamos fazer isto com a seguinte compreensão firmada em nossa mente: Nenhum ensinamento ou prática que julgamos encontrar no Novo Testamento irá contradizer ou substituir os ensinamentos de Jesus! Todas as coisas que vieram depois do ministério terreno Dele, incluindo o livro de Atos e as Epístolas, devem ser interpretadas e compreendidas à luz de tudo quanto Ele já havia dito.

                                  A PROIBIÇÃO DE TÍTULOS
Talvez o primeiro princípio que atrai a nossa atenção é que Jesus proibiu o uso de títulos corteses ou honorários entre o Seu povo. Isso mesmo. Jesus excluiu totalmente o uso de títulos na Igreja. Isto significa que não devemos usar nomes, designações ou termos especiais para distinguir indivíduos dos outros. Não deveríamos separar nenhum irmão ou irmã por reverência espe­cial, respeito ou honra que decorrem do uso de títulos.
Lemos em Mateus 23:8-10: "Vós porém, não queirais ser chamados Rabi" (VRC). De acordo com o Dicionário Vine das palavras do Novo Testamento, a palavra Rabi é derivada da palavra "rab", que significa literalmente "mestre", o que con­trasta com um escravo. Adicionando o sufixo "ei", significa "meu mestre", indicando a reverente sujeição de quem fala. Tais títulos ou rótulos, incluindo a elevação que acompanha aqueles assim designados, eram e são absolutamente proibidos entre o povo de Deus.
Mais adiante Jesus proibiu o título "pai". Chamar alguém de "Pai" é uma indicação de respeito especial e estima. Isso signifi­ca que não devemos designar nenhuma pessoa com este tipo de honra secular (a não ser aqueles com quem temos vínculo de família). E Ele continuou Seu discurso, excluindo também a de­signação especial de "mestre" entre o Seu povo. Essa é a palavra grega "DIDASKALOS", que significa mestre ou professor, assim indicando alguma forma de superioridade daqueles assim inti­tulados. Alguns textos gregos antigos substituíram nesse ver­sículo a palavra "KATHEGETES", que significa "aquele que disciplina", que significa "discipulador", "guia" ou "líder". Clara­mente o uso de tais títulos está em oposição direta aos óbvios ensinamentos de Jesus.
Alguns têm tentado arguir contra essa verdade óbvia, citan­do o versículo 7 do capítulo 13 de Romanos, onde somos ensina­dos a dar honra a quem a honra é devida. Mas, quando lemos o contexto desse versículo, facilmente compreendemos que isso é referência às nossas atitudes para com as autoridades governa­mentais terrenas, tais como reis, presidentes etc. (vs. 1 a 6), e não em nossos relacionamentos na Igreja. Outra vez, nada que apareça nas Epístolas pode ser compreendido como contradição aos ensinamentos de Jesus.
A verdade que estivemos investigando também se aplica a todos os outros títulos religiosos. A proibição dos títulos precisa incluir palavras tais como "pastor", "reverendo", "bispo" e muitos outros termos de uso comum nas igrejas de hoje.
Quando pensamos nisto racionalmente, concluímos ser impossível que Jesus tivesse algum tipo de preconceito contra uns poucos termos. Seguramente, Ele estava ensinando contra a prática de usar qualquer título especial para indicar algum grau de superioridade. Ele estava nos mostrando que apenas Ele é digno de tal respeito.
Ele diz: "Porque um só é o vosso mestre [o Cristo]", "porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus" (Mt 23:8-10). Ele explica que nós todos estamos no mesmo plano. Ninguém deve ser elevado acima dos outros, de modo algum. Concluindo, Ele diz: "Vós sois todos irmãos" (vs. 8). Portanto, não podemos hon­rar qualquer outro homem ou mulher dando-lhes títulos respeitosos ou amáveis. Esta prática está claramente fora da vontade de Deus. É proibida!
Mas, qual é a razão para isso? Por que nosso Deus está nos ensinando a não fazer essas coisas? Porque elevar alguém sobre todos os outros, seja da maneira que for ou pela razão que for, cria uma outra cabeça sobre o corpo. Cria uma outra fonte de autoridade. Isso confere a tal pessoa a aura de ser mais capaz de se comunicar com o Senhor do que as outras. Conseqüente­mente, aqueles que não são assim prendados, começam a olhar para aquela pessoa especial em vez de olhar para Jesus, em busca de direção e de alimento espiritual. Pouco a pouco, um tipo de "clero", "sacerdócio" ou "barreira" se estabelece entre o Senhor e o Seu povo. Isso é exatamente o que Jesus nunca dese­jaria que acontecesse ao Seu corpo.





É PROIBIDA A AUTORIDADE DE UM SOBRE O OUTRO
Pode ser surpreendente para alguns de vocês, leitores, que Jesus tenha proibido qualquer um de Seus seguidores de exercer autoridade sobre os outros. Embora isto seja uma prática bas­tante comum nas igrejas atuais, é algo estreitamente proibido por Jesus.
Ele diz: "Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós..." (Mt 20:25,26). Essencialmente, Ele está dizendo: "O mundo faz as coisas desta maneira, mas vós não podeis agir assim. A maneira humana é a de que um ser humano deve exercer autoridade sobre outro, mas na Igreja isso é proibido. "Não será assim no meio de vós." Aqui, Jesus não está mera­mente proibindo autoridades abusivas, mas toda e qualquer tipo de autoridade de um sobre o outro.
No corpo de Cristo não há lugar para nenhuma figura de autoridade além da de Jesus. Ele é a única Cabeça. Somente Ele é autorizado pelo Pai a liderar, dirigir e comandar o Seu povo. Ninguém, absolutamente ninguém mais, deve assumir algum tipo de autoridade sobre os outros, seja ela pequena ou grande.
Essa verdade é repetida em Marcos 10:42,43, onde lemos: "Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim." O tipo de autoridade onde uma pessoa manda ou tem controle sobre outra, é terminantemente proibido. Se você não compreende esta verdade extrema­mente básica, terá muitos problemas ao construir a casa de Deus.
Pode ser que você esteja pensando nos apóstolos, profetas, pastores e mestres citados do Novo Testamento. Possivelmente, muitas questões sobre isso estejam pipocando em sua mente. Mas, por favor, seja paciente. Chegaremos a essas questões ao seguirmos em frente com nosso assunto. Primeiro, precisamos estabelecer firmemente os princípios de Jesus. Depois, podere­mos prosseguir para ver como se trabalhava na igreja primitiva e o que pode ser colocado em prática, hoje, entre nós.
Indo um pouco mais à frente, aprendemos que o exercício de autoridade de uns sobre os outros não apenas é proibido, mas é proibido pelo melhor dos motivos.
Gosto de acreditar que a maioria dos que estão agindo dessa forma na Igreja atual tem boas intenções. Eles acreditam que estão usando sua autoridade para o benefício dos outros. Estão tentando ajudá-los. Estão caridosamente exercendo autoridade sobre os outros para o seu conforto e bem estar. Interessante é que essa atitude e esse modo de agir são também expressamente proibidos por Jesus.
Em Lucas 22:25,26, lemos: "Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados bem-feitores." Um benfeitor é alguém que faz algo em benefício de outro. Supostamente alguém está tirando proveito de suas ações. O exercício de autoridade do benfeitor sobre alguém está fazendo bem a essa pessoa e lhe trazendo algum benefício.
Mas, referindo-se a este tipo de autoridade, Jesus afirma; "Mas vós não sois assim" (v. 26). Nós não devemos agir assim! Esta prática nunca deveria ser encontrada no meio do povo de Deus. Realmente, não pode! Em vez de ser benéfico e pro­veitoso, esse modelo está impedindo o fluir da autoridade sobrenatural. Torna-se um substituto para a verdadeira sobera­nia de Cristo. Novamente lembramos Suas Palavras: "Todos vós sois irmãos" (Mt 23:8).
Não pode haver uma outra Cabeça ou fonte de autoridade no corpo de Cristo, mesmo se isto é feito com boas intenções. Quando permitimos isso, cria-se uma situação confusa. Os crentes não sabem a quem procurar em busca de direção: deve­riam procurar Jesus diretamente ou simplesmente confiar em uma figura de autoridade?
Já que a autoridade humana é mais tangível, a tendência é que tal fonte se torne a principal. Portanto, precisamos estar sempre alertas contra essas tendências. Elevar-se para ter autori­dade sobre os outros ou olhar para fontes humanas, ambas as atitudes devem ser evitadas.


               TORNANDO-SE COMO CRIANCINHAS
Quando Jesus estava na Terra com os Seus discípulos, fre­qüentemente se levantava entre eles uma discussão. Parece que existia um tema freqüente em suas conversações. Estavam sem­pre tentando decidir quem entre eles era o maior. Quem estaria acima do resto? Quem se elevaria para ser o mais reconhecido, o mais importante ou o mais respeitado?
Jesus respondeu a esta discussão com uma ilustração poderosa. Ele pegou uma criancinha e a colocou no meio deles. Então, disse: "A não ser que vocês...se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos Céus" (Mt 18:3 - NVI). A seguir, ainda disse: "Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior..." (Mt 18:4 - NVI). Aqui encontramos o mais importante princípio que deve governar nossos pensamentos e nossas ações no que diz respeito ao governo da casa de Deus.
Vemos, então, que precisamos nos humilhar. Isto é absoluta­mente essencial. Se não o fizermos, estaremos em oposição à vontade de Deus. Isso contrasta diretamente com exaltar-se a si próprio ou deixar que os outros o façam. Humilhar-se a si mesmo significa: não aceitar louvor; não procurar por elogios e respeito; não procurar nem aceitar reconhecimento, poder ou controle sobre os outros. A nossa atitude deve ser de humildade.
Não sigam o mundo ao seu redor. Não prestem atenção ao que os outros cristãos estão fazendo. Precisamos olhar para a Palavra de Deus e seguir as instruções que encontramos ali. Somente deste modo, iremos receber louvor de Deus naquele Dia.
Uma criancinha é humilde porque não sabe muito, não tem grande poder. Ela é muito dependente de seu pai e de sua mãe, não dirige coisa alguma, não controla ninguém. Sua posição é modesta, sem grande destaque.
Por favor, deixe-me afirmar isto enfaticamente e com muita clareza: a menos que você chegue a esta posição de humildade, igual a uma criança, e permaneça nela, você não estará entrando e nem viven­do no reino de Jesus! Você não poderá estar vivendo sob a lide­rança de Deus. Estas são as próprias palavras de Jesus. Isto é exatamente o que Ele nos ensinou.
Não há modo de evitar esse fato óbvio. Essa foi a resposta de nosso Senhor à ambição de Seus discípulos por autoridade e controle. Ainda é a Sua resposta hoje. Se você chegou a uma posição elevada ou deixou que outros o colocassem nessa posição, para receber respeito de outras pessoas do corpo de Cristo, de uma maneira substancial, você foi desviado do reino de Deus. Mais além, Jesus afirmou repetidamente: "Mas o maior dentre vós será vosso servo" (Mt 23:11). E "Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve" (Lc 22:26).
Isso mostra claramente que, em vez de querer ou tentar ascender em algum tipo de hierarquia, assumir o comando ou o controle de qualquer tipo de crentes, devemos fazer exatamente o oposto. Precisamos descer, para nos tornar escravos deles. Nosso objetivo deve ser exaltar os outros até o ponto em que eles se tornem "maiores" do que nós mesmos. Em vez de nos tornar­mos os maiores, precisamos nos tornar os menores.
O próprio Jesus nos mostrou esse exemplo na última ceia. Ali, Ele tirou Seu manto e colocou uma toalha. Então começou a exercer a função do menor entre os escravos. Ele lavou os pés dos discípulos. O Deus encarnado não insistiu em ter uma posição de respeito ou autoridade. Ele Se humilhou diante do Pai e diante dos Seus discípulos. Ele Se tornou um servo. Essa posição é aquela onde devemos nos encontrar.
Sem dúvida, a maioria dos líderes cristãos conhece este princípio. Eles lêem suas Bíblias. Isso não é uma idéia nova ou ensino secreto. O que parece estar faltando é o método de colocá-lo em prática.
Para começar, precisamos ter uma firme compreensão dessa idéia. É impossível estar "acima" de alguém - isso significa ter uma posição de autoridade sobre outro - e ser, ao mesmo tempo, seu escravo. É um absurdo pensar que você pode estar simul­taneamente sobre e abaixo de alguém. Estas duas posições, uma de autoridade e outra de servidão, são opostas entre si. Você não pode ter as duas coisas ao mesmo tempo. Para assumir uma, você precisa abandonar a outra. Para estar abaixo, você precisa deixar de estar acima.
Para se tornar um servo ou escravo, você precisa deixar de lado as suas roupas elegantes, precisa renunciar à posição de estar acima ou sobre; precisa deixar todos os seus títulos e a sua importância; precisa humilhar-se de maneira a desafiar o seu ego, a sua educação e até mesmo a sua renda; precisa desejar agir e viver de um modo que os outros não irão compreender ou aprovar.
Construir a casa de Deus, à maneira de Deus, pode desafiar a sua fé no nível mais profundo. Mas, como seu irmão, gostaria de encorajar você, porque as recompensas são grandes. Os tesouros espirituais, que podem ser obtidos em obediência ao nosso Senhor, estão além da descrição.


           COMO ISSO PODE FUNCIONAR?
Então, como pode tal ministério se manifestar? Como deve­mos agir? O que devemos fazer? Vamos imaginar que, entre aqueles com os quais você tem relacionamento, você se torna um escravo e eles se tornam seus senhores. Como pode isso fun­cionar?
Para começar, sabemos que um escravo não é aquele que manda na casa. Não é ele quem tem autoridade. Ele não diz ao seu senhor o que deve ser feito; não organiza a vida de seu dono, nem controla nenhuma de suas atividades; não recebe mais con­sideração que seu senhor; não lucra mais do que o seu dono; não tem qualquer autoridade, seja lá qual for, sobre o seu dono, para discipliná-lo, dirigir sua vida, controlar sua família ou casamen­to. Sua posição é de muita humildade.
Agora vamos supor que esse escravo tenha um relaciona­mento com Jesus, o que faz de sua vida um exemplo. Ele não é apenas humilde, mas também cheio de amor. Ele gasta tempo meditando na Palavra de Deus e, assim, está pleno de reve­lações. Ele é honesto, obediente, fiel, bondoso e cheio de muitas outras virtudes de Cristo.
Portanto, seus "donos", que são os outros cristãos, se tornam curiosos. Querem saber o que o faz ser assim. Estão famintos por mais luz, e Deus usa esse servo para compartilhar isso com eles. Sua vida é um exemplo tão grande de pureza e de verdade que as pessoas desejam ser como ele. Observando a sua vida, os donos acabam confiando no escravo e pedem sua recomendação e seu conselho.
Por causa de seu relacionamento de confiança com o seu "se­nhor", esse escravo ocasionalmente oferece sua opinião ou con­selho, se o "mestre" quiser ouvi-lo. Assim, o escravo se torna uma fonte da luz de Deus e de nutrição para o "senhor". Contudo, ele nunca deixa aquela posição de ser um humilde escravo para assumir a posição de autoridade ou controle.
Aqui precisamos parar um momento para analisar um ver­sículo bíblico. Não há dúvida de que alguns leitores estão se lembrando de 1 Tessalonicenses 5:12, onde lemos: "E rogamos-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam" (VRC). Eis uma daquelas ocasiões em que os tradutores da Bíblia podem ter realizado seu trabalho com um preconceito, que facilmente os conduziu a uma idéia errada. Aqui, precisamos aplicar o princípio de filtrar tudo pelos ensinamentos de Jesus. Assim, quando lemos sobre alguém que está "presidindo sobre" um outro, isso não se harmoniza com o que nós temos estudado. Portanto, precisamos chegar a uma nova compreensão desse versículo.
A palavra grega traduzida por "presidir" é "PROISTEMI", que significa "andar adiante" conseqüentemente "para liderar", "presidir" é uma tradução pobre e contaminada. Não há, no grego, o sentido de ser "melhor" ou estar "acima", mas simples­mente "em frente" na caminhada espiritual. Assim, a tradução aqui dá aos leitores uma impressão errada e contrária às palavras de Jesus.
O verdadeiro significado é que nós estamos mostrando pela nossa vida, um exemplo notável de intimidade com Cristo, para que outros O sigam. Tal "liderança" nunca deveria, de forma alguma, ser interpretada como estar "presidindo", da mesma maneira que um presidente ou um dominador de alguém.


          A LIDERANÇA VERDADEIRA É PELO EXEMPLO
Certamente que há liderança real de homens na vida cristã e entre os crentes. Mas, como isso é feito? Deve haver um tipo de liderança diferente daquele que vemos no mundo, já que é pre­ciso seguir todos os princípios de Jesus que estivemos estudan­do. A liderança no Novo Testamento é pelo exemplo. Aqueles que poderiam ser considerados "líderes" são aqueles que têm uma intimidade óbvia com Cristo, que está mudando suas vidas e impactando suas famílias. Os que estão ao seu redor estão cientes de que o caráter de Jesus está sendo manifesto por meio deles.
Estes, então, se tornam os exemplos que os outros querem seguir. Outros querem ser como eles, e tornam-se seus imita­dores (1 Co 11:1), porque também querem ter a mesma intimidade com Jesus. Dessa forma, alguns crentes são considerados "líderes" porque estão "bem à frente" na corrida para ganhar a Cristo. Estão demonstrando aos outros como crescer em Jesus. Por outro lado, não são líderes porque estão lá no palco, eleva­dos sobre os outros crentes, exercendo autoridade sobre eles.
Naturalmente, quando alguém tem uma vida tão exemplar, os outros ficam curiosos. Desejam saber como essa pessoa humilde chegou a um estado tão maravilhoso. Se os outros estão realmente à procura de justiça, desejarão compreender as coisas que Deus revelou a uma pessoa como ela.
Pode ser que eles façam perguntas; desejem recomendações e conselhos; se abram para receber daquela pessoa todas as coisas que Deus colocou dentro dela. Dessa forma, então, um escravo pode servir aos outros, ensinando, aconselhando, aman­do e admoestando.
Entretanto, tudo isso é feito em uma posição de modéstia e humildade. A atitude de um "líder" genuíno é a de ser "o mais insignificante". Nada é feito de uma posição de superioridade, autoridade, controle ou como forma de estar "sobre" os outros. Este é o verdadeiro ministério do Novo Testamento.
Além disso, nada do que esse escravo faça viola a vontade de seus "senhores", que são os outros crentes. Ele não insiste em impor a sua vontade ou a sua maneira de ser; não ordena que alguém faça coisa alguma sobre a qual não esteja convicto (Rm 14:5); não está organizando suas vidas; não está dirigindo suas reuniões, planejando suas atividades ou, de um jeito ou de outro, exercendo autoridade sobre eles.
Sua posição permanece uma posição de humildade. Ele não recebe louvor e elogios dos homens; não deixa alguém colocá-lo numa posição de autoridade; sua ênfase está sempre colocada em Jesus e nunca nele mesmo; não se sente insatisfeito com a falta de atenção ou quando os outros não reconhecem suas palavras e seu trabalho. Já que não tem outra meta além de glorificar a Cristo, ele se satisfaz somente quando o seu Senhor Se agrada.
JUÍZES E REIS
Os juízes do Velho Testamento foram instituídos por Deus. Por outro lado, os reis foram estabelecidos pelos homens - uma instituição humana. De fato, quando os filhos de Israel pediram um rei a Samuel, afirmaram especificamente que desejavam ser como as outras nações - como o mundo ao redor deles (1 Sm 8:5). Ao contrário disso, o governo de Deus foi manifesto por meio dos juízes.
Então, podemos extrair dos juízes uma importante reve­lação. Para começar, notamos que as pessoas que procuravam os juízes para aconselhamento ou julgamento, vinham por vontade espontânea. Nunca eram coagidos ou forçados. Vinham porque queriam ouvir a Deus. Os juízes eram ungidos e usados por Deus e, assim, as pessoas os procuravam.
Em contraste com os reis, os juízes não dirigiam coisa algu­ma. Eles não governavam o país. Não organizavam um exército permanente, não criavam impostos, não começavam obras públicas etc. Com poucas exceções, em tempo de emergência nacional (talvez uma vez em vinte anos, quando eles chamavam o povo de Deus para a batalha), sua atitude normal era simples­mente a de estarem disponíveis para a população. Assim eles podiam servir ao povo quando este necessitava.
Gideão e os outros juízes pareciam simplesmente estar em casa a maior parte do tempo. Se as pessoas necessitassem deles, tinham que ir procurá-los. Um outro juiz, Jair, parecia fazer uma rota por todo o país, a fim de se tornar mais acessível (Jz 10:4). Débora tinha uma árvore, debaixo da qual ela se assentava, provavelmente em um lugar público, onde se colocava à dis­posição daqueles que procuravam a direção do Senhor (Jz 4:5).
Eles não organizavam coisa alguma na vida diária das pes­soas. Não controlavam ninguém. Eram servos e não soberanos. Essas coisas deveriam nos falar ainda hoje, porque nessas pes­soas, a vontade de Deus foi manifesta.
Quando Gideão foi usado por Deus para operar uma grande libertação, o povo ficou realmente impressionado. Seguindo a tendência humana natural de querer um líder, eles tentaram fazê-lo rei. Disseram-lhe: "Reine sobre nós, você, seu filho e seu neto, pois você nos libertou das mãos de Midiã" (Jz 8:22-NVI).
Mas Gideão, sabiamente, recusou este tipo de exaltação. Ele compreendia, pelo menos um pouco, dos métodos do Senhor. Então, respondeu: "Não reinarei sobre vocês...nem meu filho reinará sobre vocês. O Senhor reinará sobre vocês (Jz 8:23-NVI). Gideão recusou-se a ser elevado a uma posição onde poderia substituir o governo de Deus nas vidas daquelas pessoas. Será que isto corresponde ao que você está fazendo hoje?


                 MAIS VERSÍCULOS QUE PODEM GERAR CONFUSÃO
Em Hebreus 13:17, encontramos uma tradução que pode também gerar nos leitores um pouco de confusão. Ali, parece que o escritor nos ensina algo totalmente oposto às palavras de Jesus. Lemos: "Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles..." É possível abstrair do texto, que somos requi­sitados por Deus a "obedecer" a alguém. Parece que o escritor está insistindo em que há alguns seres humanos que, por causa de sua posição, são dignos de nossa absoluta obediência.
Alguns têm até mesmo sugerido que devemos obedecer, sem questionar, às direções de vários líderes cristãos. Se deve­mos obedecer a alguém, então, logicamente, esse alguém deve estar em posição de autoridade sobre nós. Mas, à luz das claras palavras de Jesus, como pode isto acontecer?
Aqui, o Dicionário Vine nos ajuda a conseguir uma tradução melhor. A palavra grega traduzida como "obedecer" é "PEITHO". Vine diz que ela significa "persuadir", "conquistar", "ser persuadido", "ouvir a" e, então, como conseqüência disso, obedecer. Ele esclarece bem, enfatizando: "A obediência sugeri­da não é por submissão à autoridade, mas como resultado de persuasão.
Veja você, quando alguém vive uma vida que exibe Cristo, somos induzidos a ouvir o que ele diz e a permitir que sejamos persuadidos por ele. Isto acontece porque respeitamos sua vida e seu caráter. Não quer dizer que devemos obedecer a alguém cegamente. Não quer dizer que devemos simplesmente fazer o que alguém manda. Ao contrário, indica que devemos consi­derar cuidadosamente as palavras de alguém que realmente vive em intimidade com Deus. Quando estão falando em nome de Deus, será bom ouvirmos o seu conselho.
Se não estamos completamente persuadidos, mas obedece­mos cegamente a alguém que esteja falando em nome de Deus, então nossa obediência é algo superficial. Quando nosso coração não está completamente de acordo, mas obedecemos por algum tipo de obrigação religiosa, isto é uma violação à nossa vontade. Tal "obediência" não faz nada para favorecer os propósitos de Deus ou para mudar a nossa vida.
Observe atentamente: mesmo estando fazendo o que é cor­reto, se nossa mente não foi persuadida, isso não pode agradar ao Senhor. Quando nossa obediência é superficial, não somos transformados interiormente. Com este tipo de prática, somos apenas conformados a alguma espécie de padrão. Quando nossa submissão não é de coração, ela não pode produzir fruto espiri­tual.
Conforme já vimos, liderança bíblica não envolve nenhuma forma de dominação. Funciona exatamente como é afirmado em Hebreus 13:7, onde lemos: "Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé". Os líderes tinham uma fé exem­plar e deveriam ser imitados. A maneira de viver e a "conduta" deles eram algo digno de consideração. Aqui não há a idéia de assumir o comando ou o controle sobre os outros. Nunca deve acontecer qualquer substituição para a liderança direta de Cristo sobre cada homem (1 Co 11:3).
Agora, podemos entender que esses versos não indicam algum tipo de autoridade ou estrutura de poder que são con­trários aos ensinamentos de Jesus. Em vez disso, devem ser vistos em harmonia com eles. Deste modo, um escravo que cami­nha em intimidade com Deus, pode fazer uma sugestão ou pode dar um conselho, quando alguém procura por isso. O servo não tem que deixar sua postura de ser humilde e o mais inferior. Ele nunca deve colocar-se "acima" de ninguém.
Quando esse servo, obviamente, tem um relacionamento com o Senhor, precisamos prestar cuidadosa atenção às suas palavras. Precisamos considerar o que tem sido dito, com muita oração. Isto porque existe uma grande possibilidade de suas palavras serem provenientes do próprio Deus.
Portanto, deveríamos estar muito atentos para sermos "per­suadidos" por ele. Mas isso não indica, de forma alguma, que devemos obedecer a um homem. Até que sejamos persuadidos de que é mesmo nosso Senhor quem está falando por meio desse servo em particular, não somos obrigados a obedecê-lo.
Essa mesma atitude de ser um servo para os outros foi expressa por Paulo. Em 2 Coríntios 1:24, ele insiste em que ele e os outros apóstolos não tinham nenhum tipo de "domínio" sobre a fé dos outros, mas eram simplesmente "cooperadores" para com eles.Tenha cuidado e atenção quanto a isto. Eles não tinham domínio sobre aqueles irmãos e irmãs; não eram sobera­nos, governantes ou figuras de autoridade; não estavam con­trolando outros, nem suas vidas, nem suas reuniões. Em vez disso, eram modestos auxiliadores.
Além disso, não se comportavam pomposamente, com ares de muita importância e soberba. Eram apenas servos humildes. Na verdade, Paulo confessa que sua presença era singela. Quando estava com esses crentes, ele parecia "fraco", e suas palavras, "desprezíveis" (2 Co 10:10). Ele era muito humilde e despretensioso. Estava com eles "em fraqueza, em temor e muito tremor" (1 Co 2:3).
Paulo não comandava nem era autoritário. Ele descreve sua atitude como sendo "humilde entre vós" (2 Co 10:1). Talvez, imaginemos que Paulo era uma espécie de figura de autoridade, que andava com ares superiores e atitude constrangedora, de alguém importante, a quem todos obedeciam e respeitavam. No entanto, uma leitura cuidadosa das Escrituras revela algo muito diferente.
Pedro também enfatiza esse mesmo comportamento. Ele ensina àqueles que são usados por Deus a liderarem o Seu povo, não agirem com "...domínio sobre a herança de Deus". Em vez disso, incentiva-os a serem "...exemplo[s] para o rebanho" (1 Pe 5:3-VRC).
Isso deveria ser assim para que não se exaltassem. Eles não deveriam se colocar em uma posição falsa de superioridade sobre outros e também não deveriam agir com a expectativa de receber dinheiro (vs. 2). Deveriam simplesmente fazer o seu tra­balho, alimentando os outros com o pão sobrenatural, que é Jesus Cristo. A liderança deles deveria acontecer por meio do exemplo e do serviço humilde, em vez de algum tipo de posição de autoridade, isto é, sendo "senhores".


CONDUTORES DE AUTORIDADE
É bem claro que, em todo o universo, Deus é a fonte de toda a autoridade. Qualquer ser humano ou mesmo qualquer criatu­ra que tenha autoridade, recebeu-a de Deus. Ele permitiu que tivessem autoridade ou mesmo que fossem colocados em posição de poder. Sem a Sua permissão, eles não teriam qual­quer poder.
Em nosso mundo, temos diferentes tipos de figuras de autoridade. Isto inclui presidentes, governadores, juízes, delega­dos, pais etc. As Escrituras mostram claramente que estas fi­guras de autoridade são estabelecidas por Deus e que nós deve­mos lhes obedecer (1 Pe 2:13,14).
Já que o mundo está em rebeldia contra o Senhor, Ele usa esses indivíduos para agir em Seu lugar, para, de algum modo, subjugar a rebelião e as tendências pecaminosas da humani­dade. Até este momento, Ele ainda não retornou para governar pessoalmente este mundo, então Ele delega Sua autoridade a outros, para que governem em Sua ausência. Homens e mu­lheres que receberam essa autoridade de Deus são freqüente­mente chamados de "autoridades delegadas".
Na Igreja, entretanto, Deus designou um modo diferente de governar o Seu povo. Conforme já vimos, Ele é a Cabeça. Ele é o único que deve dirigir, organizar e controlar tudo. Embora a Sua presença física esteja ausente deste mundo, Sua presença espiri­tual é (ou deveria ser) muito real na Igreja.
A Igreja verdadeira de Deus não é governada por qualquer tipo de autoridade delegada. Existem vários motivos para que uma pessoa encarregada deva delegar sua autoridade. Uma é que ela não pode estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo. Outra é que ela fica ocupada demais para atender todas as necessidades da organização. Uma terceira razão pode ser que ela não tenha interesse nem perícia em todos os aspectos do trabalho.
Mas, Jesus não tem nenhuma dessas deficiências. Ele se levantou dos mortos! Ele está vivo! Está se movendo hoje, aqui, no meio do Seu povo. O Senhor é onipresente. Então, Ele pode estar presente em todo lugar ao mesmo tempo. Ele também é todo poderoso. Não há nada que Ele não possa fazer. Portanto, Ele não tem necessidade de delegar Sua autoridade sobre a Igreja. Não há necessidade de que outros ajam por Ele em Sua ausência ou por Sua incapacidade. Já que Ele é vivo, capaz e pre­sente, Ele é perfeitamente apto para dirigir tudo sozinho.
Naturalmente, já que Ele vive nas "pedras vivas" de Seu templo, que são homens e mulheres, às vezes Ele Se expressará por meio desses vasos. Ele os usa como condutores, por meio dos quais manifesta Sua autoridade. Já que Jesus mora em Seu corpo, Ele fala freqüentemente por meio dos diferentes mem­bros do Seu corpo.
Quando alguém é muito usado por Deus desse modo, passa a ser conhecido como "líder". Seu relacionamento íntimo com Jesus o faz útil a Ele para revelar a vontade Dele. Sua vida trans­formada fornece um claro caminho para Ele expressar Sua liderança. Essas pessoas são os vasos que Jesus geralmente usa para falar ao Seu povo e para liderá-los. Elas se tornam canais da autoridade de Deus.
Entretanto, um ponto deve estar bastante claro em nossas mentes. Não importa a freqüência com que Deus use alguém como um vaso para manifestar Sua autoridade, este alguém nunca se torna uma autoridade! A autoridade nunca pertence a ele. Ele ou ela permanecem sempre um(a) servo(a) humilde, através do(a) qual, a vontade de Deus é manifesta.
Esta é a única compreensão bíblica que pode harmonizar os ensinamentos de Jesus e a prática da Igreja no Novo Testamento. É a única maneira pela qual alguém pode continuar a ser escra­vo ou servo e, ainda assim, manifestar autoridade. Isto só pode acontecer quando a autoridade não pertence àqueles por meio dos quais ela está sendo manifesta!
Se alguém pode receber ou ter sua posição de autoridade sobre outros, isto automaticamente o coloca em uma situação incompatível com a Escritura. Qualquer tipo de posição de autoridade deve, por definição, estar sobre alguns ou sobre todos os outros. Novamente, é impossível estar "sobre" e "abaixo" ao mesmo tempo.
Muitas pessoas têm visto que, em geral, o exercício de autoridade na Igreja, hoje, vai mal. Elas vêem coisas muito pre­judiciais, errôneas e mesmo ridículas sendo feitas em nome de uma liderança. Entretanto, supõem que o problema é com os homens e mulheres que estão exercendo essa autoridade. Ima­ginam que, se esses líderes fossem somente um pouco mais transformados, mais bem equipados ou treinados, ou melhor supervisados por outros homens ainda mais espirituais, eles fariam as coisas corretamente. Se esses líderes tivessem longos anos de experiências, se eles apenas tivessem a preparação necessária, então iriam agir de maneira diferente. Talvez, então, pudessem suportar ser uma autoridade sobre outros.
Mas, quando pensamos sobre isso logicamente, logo com­preendemos que essa idéia nunca irá funcionar. Há literalmente centenas, se não milhares de grupos cristãos, brotando pelo mundo todo a cada dia. Então, onde poderíamos encontrar tan­tos líderes bem preparados? Onde poderíamos achar um número de crentes tão maduros, completamente transformados e confiáveis para ter sua própria autoridade e ainda exercê-la de um modo divino? Se necessitássemos de apenas uma figura de autoridade para cada grupo, onde poderíamos encontrar um suprimento de tantas pessoas quebrantadas e humildes? Além disso, como os levaríamos para o lugar onde deveriam estar?
A resposta deve ser que devemos deixar a liderança da Igreja no lugar que lhe pertence: nas mãos do Senhor. Precisamos ensi­nar uns aos outros como nos submeter a Ele. Precisamos nos aju­dar a entrar em um relacionamento íntimo com Jesus e a mantê-lo. Precisamos trabalhar para estabelecer Sua autoridade na vida de cada membro.
Assim, todos serão capazes de ouvir Suas ordens, serão capazes de sentir Sua direção. Já que tais pessoas estão ver­dadeiramente submissas a Jesus em seus corações, serão capazes de ouvir Sua voz, mesmo quando Ele está falando por meio de outros irmãos e irmãs. Não importa se é por meio de um líder, por meio de um modesto, humilde e desconhecido membro do corpo de Cristo ou mesmo por meio de um jumento, tais pessoas submissas ouvirão Sua voz e a obedecerão.
A autoridade da Cabeça freqüentemente flui por meio dos membros do seu corpo. Por exemplo, quando Paulo o apóstolo ensinava, exortava ou admoestava os outros em suas epístolas, sabemos que era o Espírito de Deus falando por meio dele. Ele estava sendo ungido para escrever aquelas cartas. Portanto, a autoridade manifesta ali não era dele. Não pertencia a ele, mas era simplesmente uma exibição da autoridade da Cabeça. Do mesmo modo, hoje, Jesus fala através do Seu povo. Sua autori­dade é freqüentemente manifesta por meio dos outros, para aqueles que têm ouvidos para ouvir.
Talvez seja interessante examinar uma palavra que achamos em 2 Tessalonicenses, capítulo 3, versículos 4, 6, 10 e 12. Neste trecho, é usada a palavra "ordenar" ou "comandar". Parece que Paulo está usando uma autoridade pessoal e "ordenando" ou "comandando" os discípulos a fazerem alguma coisa ou outra. A palavra grega aqui é PARANGELLO.
Segundo W. E. Vine, em seu dicionário de palavras do Novo Testamento, essa palavra significa literalmente: "repassar um anúncio" de uma pessoa para uma outra (traduzido do original inglês por este autor). A origem dessas "ordens" foi de uma outra Pessoa. Paulo simplesmente estava "repassando" coman­dos para os discípulos.
Não existe aqui o pensamento de "comandar", como se Paulo tivesse sua própria autoridade. Ao invés disso, ele estava simplesmente repassando instruções que recebeu de Jesus. Ele foi um vaso através do qual a autoridade de Deus estava fluin­do, e não uma pessoa exercitando uma autoridade própria. A palavra grega, então, serve para confirmar o entendimento que estamos apresentando a vocês.


O EXEMPLO DE MOISÉS
Moisés foi um bom exemplo de um condutor de autoridade. Ele andava em tal intimidade com Deus, que falava com Ele "...face a face, como quem fala com seu amigo" (Êx 33:11). Quando Deus revelava Sua vontade a Moisés, então ele agia. Quando Sua palavra vinha a ele, Moisés falava ao povo. Ele era um vaso bastante usado por Deus para expressar Seus planos e Sua vontade para Israel.
Moisés não estava iniciando coisa alguma. Não estava planejando e liderando o povo por conta própria. Quando os outros o desafiavam, ele tentava lhes explicar que era realmente Deus quem estava falando e agindo por meio dele. Ele disse: "Pelo que tu e todo o teu grupo junto estais contra o Senhor..." (Nm 16:11).
Entretanto, uma única vez, Moisés tomou essa autoridade sobre si mesmo. Uma única vez, ele assumiu a posição de autoridade sobre o resto e agiu do alto desta posição. Em vez de per­mitir que Deus trabalhasse por meio dele, agiu como uma figu­ra com autoridade própria. Bateu na rocha com ira, em vez de obedecer a Deus. Por causa disto, embora Deus tenha lhe honra­do e lhe permitido extrair água da rocha, sua atitude lhe custou o impedimento dele entrar na terra prometida. Apenas esse único instante agindo com uma autoridade delegada por Deus, em vez de ser um vaso de autoridade transmitida, trouxe-lhe um custo muito alto.
Talvez devêssemos considerar cuidadosamente este exem­plo, hoje. Como deve ser importante para o nosso Senhor ser Aquele que conduz o Seu povo! Como é crucial para Ele que Sua autoridade seja mantida. Vendo o que esse ato de autoridade posicional custou a Moisés, deveríamos examinar nossas próprias vidas e autoridades hoje.
É possível que muitos estejam iludidos. Eles agem e falam de uma posição de autoridade sobre o povo de Deus; planejam, organizam e lideram os outros. Entretanto, não caiu sobre eles um julgamento visível. Então, imaginam que deve estar tudo OK, Deus deve aprovar o que eles fazem. Mas estes queridos irmãos e irmãs estão falhando em ver o futuro.
Hoje estamos na Era da Graça. A maior parte do tempo, Jesus nos permite fazer nossas próprias escolhas e seguir nosso próprio caminho. Está esperando para julgar o Seu povo quan­do Ele aqui voltar. Quando Jesus voltar, teremos que responder por nosso comportamento contrário às Suas claras instruções. Quando Ele surgir, nossas obras serão testadas pelo Seu fogo.
Significativamente, somos ensinados que, naquele dia, "...muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros" (Mt 19:30). Você percebe que há, hoje, muitas pessoas que assumem posições de autoridade sobre outras. Elas se colocam em primeiro lugar. Estão ganhando popularidade, seguidores e di­nheiro. Estão à frente da liderança de congregações do povo de Deus. Talvez imaginem que estão tendo sucesso. Aparentemente eles são "os primeiros".
Mas, quando Jesus voltar, todas essas coisas serão expostas à luz de Sua glória. A palavra que Ele falou irá nos julgar (Jo 12:48). Isso significa que Seus claros ensinamentos, que temos estudado - os quais muitos conhecem, mas não estão seguindo - irão nos julgar. Para "muitos", toda a sua importância e posição será vista como realmente é - algo terreno e humano. Toda ambição para ser o maior e todo o orgulho serão revelados com a maior clareza. Todos que almejam atenção, poder, e mesmo dinheiro, serão expostos como sendo guiados pela cobiça da natureza humana caída.
Pode ser que em seu caso, Deus o use de vez em quando para manifestar Sua autoridade. Talvez você seja um vaso que Ele usa para transmitir Sua vontade a outros. Confiantemente, você tem aprendido a ser um servo humilde e não está tentando ser senhor sobre qualquer outra pessoa. Entretanto, ainda há uma outra coisa que precisamos entender.
Não nos compete impor a autoridade de Deus. Nós não somos responsáveis por tentar convencer o povo a fazer o que Ele diz. Talvez você esteja certo de que Deus o tenha usado para dar alguma direção ou alguma revelação a uma outra pessoa. Sua parte termina aí. Quer eles ouçam ou não, quer eles obe­deçam ou não, não é de sua responsabilidade. Você fez o que Deus queria que você fizesse, agora está nas mãos Dele. Ele é Aquele que falou, portanto, é Ele quem deve cuidar dos resulta­dos.


ESCOLHENDO ANCIÃOS
Sem dúvida, alguns irão dizer: "Mas Paulo e os outros esco­lheram ou ordenaram anciãos em cada igreja. Portanto, não devemos nós também escolher tais figuras de autoridade (Tt 1:5)?" Mais uma vez o Dicionário Vine nos dá um discernimento importante. A palavra grega traduzida por "escolher" ou "cons­tituir" é "CHEIROTONEO", que significa literalmente "esten­der as mãos para". Vine escreve, no texto original em inglês (versão da tradutora): "Não é uma ordenação eclesiástica formal que está em vista, mas um apontar o dedo para que as igrejas reco­nhecessem aqueles que já tinham sido levantados e qualificados pelo Espírito Santo e já tinham dado evidência disso em suas vidas e em suas obras". Infelizmente, a tradução mais recente do dici­onário de Vine em português não seja fiel às idéias do autor.
Para entender isso claramente, precisamos imaginar o con­texto no qual foi dada essa direção, na carta a Tito. Na Igreja primitiva havia uma situação muito diferente do que vemos hoje. As igrejas naquelas diversas cidades eram recentes. A idéia de Igreja era uma coisa bem nova. Além disso, havia muitos novos crentes que necessitavam de cuidados, conselho e atenção.
Em Jerusalém, novos convertidos sabiam facilmente onde procurar por conselho e direção. Os doze apóstolos haviam ca­minhado com Jesus. Mas, naquelas outras cidades, a idéia de Igreja era uma coisa bem recente. Então, quem eram aqueles a quem Deus estava usando? Quem estava andando em intimi­dade com Deus e, portanto, poderia ser procurado para dar con­selhos e recomendações. Quem eram os servos fiéis?
Aqueles crentes estavam na infância espiritual e não tinham discernimento para perceber quem eram os que tinham mais maturidade cristã. Portanto, Paulo achou necessário auxiliar os novos crentes a identificarem os mais maduros. Ele não estava "selecionando" homens para posições de autoridade, mas os estava indicando (estendendo as mãos para apontar = CHEIRO-TONEO) para o benefício dos outros, daqueles que estavam em comunhão com Jesus. A vida dos homens indicados era um testemunho de seu crescimento e de seus dons. Assim sendo, eles deveriam ser usados por Deus como exemplos para o reba­nho.
Existe, então, a função de presbítero ou supervisor? Claro que sim, deve existir. Pode existir a posição de presbítero que tem autoridade sobre os outros? Não, isso nunca deve existir. Mais uma vez, devemos lembrar que nada que foi feito pelos apóstolos pode contrariar o que Jesus claramente ensinou. Só podemos compreender essas situações harmonizando-as com as instru­ções do Mestre. Assim, é impossível pensar que Paulo e Tito estavam dando "posições de autoridade" a algumas pessoas, a fim de exercerem comando sobre outros. Eles estavam simples­mente "indicando" pessoas que já tinham maturidade para aju­dar outros. A colocação de Vine clareia esta questão.


TERMINOLOGIA BÍBLICA
No Novo Testamento, encontramos muitas palavras dife­rentes, que acabaram, ao passar do tempo, se transformando em títulos e posições na Igreja. Lemos sobre pastores, mestres, anciãos, profetas, diáconos, e assim por diante. Como então podemos compreendê-las à luz de nossa atual discussão?
Primeiramente, precisamos entender que tais termos nunca são usados na Bíblia como títulos. Nunca lemos sobre "Pastor" Pedro ou "Apóstolo" Paulo ou "Ancião" Tiago. Pelo contrário, elas eram a descrição das funções em que esses homens serviam, de seus dons e chamados particulares. São palavras usadas para indicar que tipo de servos eram esses homens, e não a espécie de posição que haviam conseguido. Encontramos textos, por exem­plo, assim: Paulo, "um servo de Deus e um apóstolo de Jesus Cristo" (Tt 1:1) e Pedro, "um servo e apóstolo" (2 Pe 1:1).
Então, como podemos entender tais termos? Como um exemplo, podemos olhar para o mundo à nossa volta. Em nossa sociedade, temos muitos tipos diferentes de profissões. Temos carpinteiros, pedreiros, encanadores, mecânicos, programadores etc. Estas palavras são as descrições do tipo de trabalho que essas pessoas fazem. Não são posições de autoridade sobre o resto da sociedade.
Considera-se que essas pessoas tenham alguma habilidade especial em sua área de serviço. Sem dúvida, eles têm uma certa experiência que os qualifica para dar conselhos aos outros, que querem fazer o mesmo trabalho.  Mas não são títulos ou posições, são simplesmente descrições do tipo de serviço que essas pessoas executam.
Durante todos estes anos, desde que o Novo Testamento foi escrito, palavras como pastor, ancião etc. têm sido retiradas de seu contexto e alteradas. Elas passaram a significar algo dife­rente e, em muitos casos, completamente oposto do que signifi­cavam há dois mil anos atrás.
Um exemplo disto é a palavra "ministro". Hoje em dia, pen­samos em um ministro como alguém que dirige uma igreja. Entretanto, a revelação da Escritura do que é ser "um ministro" é muito diferente. Há três palavras diferentes no grego que são traduzidas em português como "ministro".
A primeira é "DIAKONOS". Significa servo ou atendente. Indica um simples servo doméstico. Freqüentemente é traduzi­da como "diácono".
A segunda palavra, "LEITOURGOS", refere-se a alguém que serve o público com uma capacidade especial, às suas próprias custas.
A terceira palavra, "HUPERTES", originalmente significava "o mais baixo remador", que era uma classe inferior de mari­nheiro. Mais tarde, passou a significar qualquer subordinado agindo sob a direção de outro. Certamente este tipo de "mi­nistro" não dirigia o navio.
Algumas outras palavras que são usadas para falar daqueles que são servos espirituais, são: DOULOS, "um escravo"; OIKETES, "um servo caseiro"; MISTHOIS, "um servo assalaria­do"; e PAIS, um servo menino (Definições do Dicionário Vine do Novo Testamento). Não há nada em nenhum destes termos que indique uma posição de autoridade ou controle sobre os outros. A verdade é exatamente o oposto. Vemos aqui que a Bíblia fre­qüentemente usa terminologias para os servos de Deus, que se referem aos menos estimados membros da sociedade. Eles eram os mais inferiores servos domésticos.
Outros termos que comportam investigação são: "ancião", "supervisor" ou "bispo". Anciãos eram pessoas de idade avançada e muita experiência. Não se conceberia a idéia de que uma pessoa de 20 anos de idade pudesse ser um "ancião". Isto seria ridículo. Tais homens, por terem vidas exemplares e serem considerados sábios, eram procurados para conselhos e recomendações. Eles não governavam o povo. Os anciãos do Novo Testamento também agiam desse modo.
Outro termo, "Bispo", vem do grego EPISKOPOS, que sig­nifica "ficar de olho" ou "zelar por". A segunda parte desta palavra, "SKOPEO", foi tomada e traduzida como "bispo". O verdadeiro significado aqui parece totalmente claro. Aqueles que são maduros, têm muita experiência e andam em intimi­dade com Jesus, têm uma responsabilidade: são uma espécie de observadores ou "supervisores".
Quando as coisas começam a ir mal na vida de alguns crentes, esses observadores são aqueles que notam isto. Eles, então, têm a responsabilidade diante de Deus, de orar e ver o que Deus deseja que digam ou façam para servir nessa situação. Isto não significa que eles têm autoridade para dirigir a vida de outras pessoas. Eles sabem que somente Deus pode transformar alguém ou mudar sua situação. Porém, eles têm a função de obe­decer a Jesus e "repassar" para os outros tudo o que o Senhor está falando. Entretanto, com toda humildade, podem dar con­selhos, avisos ou sugestões. Outra vez, isso não tem nada a ver com solicitar submissão dos outros, mas simplesmente servi-los, para o seu bem estar, com a capacidade de observar de fora.
Também devemos notar que esses irmãos não estavam supervisionando. Será que essa palavra indica que eles estavam dirigindo uma organização religiosa? Será que eles estavam supervisionando todas as atividades de alguma igreja? Eram eles que decidiam onde e quando as pessoas deveriam se encon­trar e que papel cada membro teria na organização? Eles estavam planejando e dirigindo todas as atividades do grupo? Não! Essas idéias não são encontradas no Novo Testamento. Nunca houve um grupo de homens dirigindo a igreja. Tal direção era o trabalho da Cabeça.
Em vez disso, os supervisores estavam simplesmente aten­tos às vidas individuais dos outros crentes. Estavam sempre vi­gilantes para ver se as outras pessoas estavam bem em seu rela­cionamento com o Senhor. Quando ocorria algum problema, se alguém estivesse com uma necessidade física ou espiritual, eles então poderiam procurar a Deus para saber como ministrar Sua Vida naquela determinada situação.
Uma outra palavra que devemos discutir é "apóstolo". Ela significa alguém que foi enviado por uma outra pessoa para fazer um serviço. Como exemplo, podemos citar algumas situ­ações onde o termo seria aplicável: mandar um encanador para a sua casa, a fim de consertar um vazamento; enviar um garoto vizinho para comprar um refrigerante etc. No Novo Testamento, foi o próprio Deus quem enviou alguns homens com uma visão celestial. Era tarefa deles compartilhar aquela revelação com todo aquele que estivesse aberto para recebê-la.
O fato de Deus ter enviado essas pessoas, certamente dá um peso ao que elas tinham a dizer. Assumindo que alguns ainda são apóstolos genuínos hoje, e não falsos apóstolos, precisamos prestar cuidadosa atenção à mensagem deles. Mas eles não foram e não são enviados pelo Senhor para dirigir a Igreja. Eles não estão autorizados a assumir uma posição de controle ou importância. São simplesmente humildes servos dos outros irmãos e irmãs. Aqueles que se proclamam apóstolos e não com­preendem essa verdade, não podem ser genuínos.
A grande maioria da Igreja, e até mesmo o mundo, com­preende esses termos de modo a não se harmonizar com a men­sagem de Jesus. Portanto, é meu costume evitá-los. Embora esses termos estejam na Bíblia e, portanto, sejam termos legíti­mos, eles são quase universalmente mal entendidos. Se os usar­mos, correremos um sério risco de expressar uma idéia ou dar uma impressão errada. Descobri que é virtualmente impossível reeducar todo mundo sobre o real significado de tais palavras.
Talvez devamos retroceder ao que João Batista disse de si mesmo: "Eu sou a voz do que clama no deserto" (Jo 1:22,23). Ali estava João, de quem fora dito que nenhum profeta maior do que ele havia existido (Mt 11:11). Mas, quando as pessoas vie­ram questionar sobre quem ou o quê ele era, recusou-se a se exaltar. Em vez de insistir que era alguém ou alguma coisa, ele se descreveu como uma voz solitária, gritando no deserto. Ele tomou uma posição de humildade. Tomando-o como exemplo, então, nos humilhar e glorificar a Jesus nunca pode dar errado. Mais adiante, neste livro, discutiremos como funcionam algumas dessas funções de serviço. Tentaremos falar como a Igreja genuína pode ser experimentada. Mas, por ora, pre­cisamos seguir para outras questões sobre autoridade.


UM SERVO HUMILDE
Um verdadeiro servo de Deus no corpo de Cristo pode ser freqüentemente difícil de reconhecer. Isto, porque tal servo é humilde. Ele não exalta a si mesmo; não está empurrando para frente a si mesmo e a seu ministério; não está procurando uma oportunidade de mostrar seus dons aos outros; não está procu­rando reconhecimento; não tem título ou posição de prestígio. Portanto, não se distingue como alguém especial. A menos que tenhamos olhos espirituais, será fácil, para nós, não perceber­mos esse vaso de Deus.
Esta deve ser exatamente a razão pela qual o escritor de Hebreus escreveu sobre a necessidade de reconhecermos tais pessoas (Hb 13:7,17). Note bem que a Palavra diz "reconhecer" e não "dar reconhecimento". O autor de Hebreus nos incita essencialmente a prestar cuidadosa atenção ao que eles dizem. Já que eles são humildes, não ficam insistindo em sua própria autoridade. Já que são servos, é fácil os outros negligenciarem suas advertências ou seus conselhos. É natural que os outros não reconheçam a autoridade do Senhor sendo manifesta na vida deles.
Já que vivemos em um mundo secular, onde as pessoas olham e admiram aqueles que têm títulos, posições, fama e transpiram um ar de importância, é fácil para muitos crentes terem problemas em reconhecer aqueles servos humildes a quem Deus está usando. E quando a Igreja perde as instruções da Cabeça, fica sem rumo e vive em desobediência.
Aqui encontramos um ponto chave. Todo crente, toda parte do corpo de Cristo, precisa ouvir a voz do Senhor falando por meio de servos humildes. Deus não vai mandar Suas instruções pelo SEDEX. Ele raramente vai falar em voz audível a todos. Quase sempre Jesus falará por meio de um membro do Seu corpo. Portanto, devemos estar sempre atentos para ouvir o Espírito Santo, quando nossos irmãos e irmãs estão ministrando, admoestando ou compartilhando. Necessitamos desesperada-mente distinguir a voz do nosso Mestre e obedecer ao que Ele está falando a nós. Se falhamos nisso, vamos acabar andando em trevas e perdendo muito do que Jesus pode querer fazer em nós.
É possível que a situação daqueles dias fosse quase o oposto do que vivemos hoje. Os verdadeiros líderes espirituais não eram reconhecidos ou ouvidos. As pessoas não tinham discer­nimento espiritual para imaginar que era o Senhor falando por meio dessas pessoas. Então, os escritores das Sagradas Escri­turas precisavam incentivar as pessoas a ver e a ouvir o Senhor falando por meio de outros. Bem, de qualquer forma, talvez isto não seja tão diferente de hoje, apesar de tudo.


DIÓTREFES
Essas considerações nos trazem o exemplo de Diótrefes. Eis um homem que amava ter uma posição. Ele gostava de contro­lar os outros. Adorava a atenção e poder que tal situação trazia a ele. Ele amava "...exercer a primazia entre eles" (3 Jo 9). Assim, ele se levantou para assumir o controle da igreja. Tornou-se o líder. Ele era o homem que chefiava.
A grande conseqüência desse ato é que Diótrefes teve que começar a proteger o território, de cujo controle havia assumido. Quando os outros se aproximavam - qualquer um que estivesse andando "em verdade" (vs. 12), isto é, alguém que pudesse expor a ambição egoísta dele - Diótrefes tinha que se livrar deles, tinha que "proteger" seu rebanho dessas "más" influências.
É quase inevitável que, quando alguém assume uma posição de poder, entre em contenda com os outros para proteger sua posição. Quando você não tem posição ou poder, você não tem nada para defender. Mas, uma vez que você assume controle sobre os outros, mais cedo ou mais tarde, alguém com um dom ou um ministério poderoso irá aparecer em cena. Então, isto pode ser visto como uma ameaça.
No caso de Diótrefes, ele usou alguns métodos antiqüíssimos para defender seu território. Suas táticas de defesa eram as mesmas usadas hoje por muitas pessoas. Ele criticava, caluniava e censurava o testemunho de qualquer pessoa que representasse uma ameaça à sua posição. Até usou linguagem bombástica con­tra João, "com palavras maliciosas" (vs. 10). Sem dúvida, ele difamava o caráter, as práticas e as doutrinas dos outros.
Além disso, ele não recebia qualquer um que discordasse dele. Ninguém poderia ter comunhão com o grupo, a menos que se conformasse com as suas idéias. Também, se alguém da con­gregação recebesse outros com pensamentos diferentes, ele os expulsava (vs. 10). Talvez as coisas na Igreja tenham mudado muito pouco desde aqueles tempos. Disputas tão mesquinhas por controle e poder não são estranhas ao povo de Deus, hoje.


A RESTAURAÇÃO DA IGREJA
No século passado uma nova idéia teológica se levantou. Tal pensamento afirma que a prática genuína da Igreja necessita ser "restaurada". Isso significa que deveríamos retornar à prática do Cristianismo, como se fazia no Novo Testamento, incluindo sua vida diária, ministério e estilo de reuniões. Um dos que deram origem a este movimento foi Watchman Nee.
A partir dele, muitos outros se levantaram, afirmando ser detentores do padrão para tal restauração. Cada um acredita que compreendeu o "padrão do Novo Testamento" mais pre­cisamente e está trabalhando para conformar as igrejas, debaixo de sua influência, a este padrão.
Para alguns, tal padrão é o reconhecimento de apóstolos e a submissão a eles. Insistem em que, nos submetendo à autori­dade deles, chegaremos à experiência da Igreja primitiva. Uma parte do pensamento deles é que na Igreja atual está faltando autoridade apostólica e, pela restauração da submissão a esses apóstolos, a verdadeira Igreja será experimentada.
Incontáveis apóstolos estão circunavegando o mundo, procurando por grupos vulneráveis às suas idéias e conformando-os à sua ênfase particular. O pensamento deles é que, quan­to mais grupos estiverem sob sua autoridade, mais a Igreja ver­dadeira será restaurada. Embora as fórmulas variem de acordo com cada indivíduo, a idéia geral é que, apenas através da sub­missão ao ministério deles, as pessoas podem, realmente, estar agradando a Deus.
Outros têm uma doutrina sobre a "base" da igreja. Alguns pensam, por exemplo, que, se somente nos encontrarmos debaixo da bandeira de ser "a igreja em alguma cidade em par­ticular" (a igreja em São Paulo, por exemplo), estaremos nos reunindo da forma correta. Acredita-se que o segredo está no nome que é usado para identificar o grupo dos crentes.
As igrejas do Novo Testamento, dizem eles, não tinham nome, mas eram apenas identificadas pelo nome de sua locali­dade. Assim, se eles pudessem persuadir cada um a deixar de lado seus nomes particulares e se reunir com eles sob a bandeira de ser "a igreja da cidade em...", a unidade da Igreja seria restau­rada. Essa seria, então, a verdadeira experiência do Novo Testamento.
Mais recentemente iniciou-se um movimento que faz encon­tro nos lares. Acredita-se que o problema da Igreja atual é o local onde nos encontramos. A construção de grandes catedrais, obvi­amente, é anti-bíblica. A posição de um líder em uma platafor­ma e o resto dos membros nos bancos inibe o funcionamento apropriado do corpo. Portanto, se voltássemos às práticas do Novo Testamento, de encontros nas casas, tudo se transfor­maria. Isso iria agradar a Deus.
Então, agora vemos "o movimento da igreja nos lares", colo­cado como resposta para a restauração da Igreja. Livros estão sendo escritos e conferências estão sendo feitas para propagar essa prática considerada essencial.
A idéia básica por trás deste e de muitos outros esforços é esta: se nós, de alguma forma, pudéssemos voltar ao padrão exato e à prática dos crentes do Novo Testamento, Deus se agradaria tanto, que desceria correndo do céu para nos abençoar. Se, de algum modo pudéssemos pôr "as coisas em ordem", isso seria exatamente o que Jesus estaria esperando ansiosamente, e então começaria um reavivamento. Se nós, finalmente, pudéssemos imitar o que os cristãos faziam no livro de Atos, então seríamos cheios do Espírito e de poder. O que Deus poderia desejar mais do que uma exata reprodução do Cristianismo do Novo Testamento?
Meu conselho para esses queridos irmãos é: esqueçam isso! Dessa forma, nunca chegaremos ao lugar onde Deus nos quer. Nunca poderemos restaurar a Igreja. Simplesmente, esse não é o nosso trabalho. Somente Ele pode fazê-lo. Se imaginamos que podemos "restaurar" a Igreja ao padrão e às práticas do Novo Testamento e que, de alguma forma, isso irá agradar a Deus, estamos enganados.


            PRECISAMOS RESTAURAR A CABEÇA
O problema com essas idéias, é que estamos colocando o carro na frente dos bois. Não podemos restaurar a Igreja. Jesus é o único que pode restaurar qualquer coisa. Portanto, o que pre­cisamos é recolocar Jesus em Seu lugar de direito entre nós. Precisamos restaurar o lugar da Cabeça. Quando Ele for a Cabeça sobre todas as coisas em nossa experiência cristã, então, e somente então, a Igreja será restaurada. Enquanto tivermos entre nós "cabeças" competindo com Cristo e outras figuras de autoridade entre nós, sempre estaremos fora da meta.
Por que não temos hoje a experiência do Novo Testamento? Porque perdemos nossa Cabeça. Nós A substituímos por ho­mens que usam uniformes, títulos e posições. Temos olhado para figuras de autoridade que são terrenas, humanas e falíveis, em vez de olhar para o Único que deve dirigir todas as coisas. Nós temos colocado nossa confiança em meros seres humanos, em lugar do nosso divino Líder.
Em vez do Deus invisível ser o Senhor responsável por nos­sas vidas, nossos ministérios e nossos encontros, temos meros seres humanos como nossos guias. Temos pensado que podemos relegar Jesus ao lugar de um mero espectador, enquan­to andamos de cá para lá, fazendo coisas bíblicas para agradá-Lo.
Se quisermos reavivamento, precisamos recolocar Jesus em Seu legítimo lugar dentro de nós e entre nós. Se quisermos experimentar o mesmo que os primeiros crentes, precisamos remover toda e qualquer "autoridade" substituta. O único jeito do corpo de Cristo funcionar normalmente é com a verdadeira Cabeça governando cada atitude e ação dos membros e da vida do corpo.
A hora chegou de todos os crentes se arrependerem de sua dependência de lideranças humanas. Também é o tempo para nos arrependermos, se somos culpados de ocupar o lugar de Jesus no meio de Seu povo. Hoje é o dia para voltarmos ao nosso verdadeiro Rei e entronizá-Lo como o autor e o diretor de todas as nossas vidas pessoais, todos os nossos encontros na Igreja e de todos os nossos relacionamentos.
Agora é a hora de restaurar o governo de Deus em nós e entre nós. Podemos depender Dele para nos levar de volta ao genuíno padrão do Novo Testamento. Na verdade, este é o padrão do Novo Testamento.

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